20.5.07

 

Insólita Intimidação


Neste último sábado, 19 de Maio de 2007, o jornal Público trazia uma notícia algo invulgar, nos tempos democráticos, que deve merecer a nossa atenção e consequente discussão.

Segundo a notícia, um professor de inglês terá feito um comentário jocoso a respeito da licenciatura do Primeiro-Ministro José Sócrates, na presença de um representante do Ministério da Educação.

Esse comentário terá sido considerado insultuoso da figura do Primeiro-Ministro, pela Directora Regional da Educação do Norte, que resolveu suspender o professor do seu serviço habitual, ao mesmo tempo que lhe instaurou um processo disciplinar, com participação da ocorrência ao Ministério.

Se esta história se confirmar, conforme veio relatada no Público, advertência que hoje em dia se terá de fazer com a maior ponderação, dada a leviandade que grassa no meio jornalístico actual, em Portugal como no resto do mundo, o caso assume gravidade de tomo.

Coisas que imaginávamos decorrentes da prática democrática, como a expressão da livre opinião dos cidadãos, podem começar a ficar à mercê do entendimento caprichoso de quem localmente exerce qualquer forma de Poder.

Custa-me acreditar que de tão insignificante episódio, como a reprodução de uma qualquer piada relacionada como a acidentada licenciatura de José Sócrates, resulte dano para a vida do professor.

Difícil seria ignorar o carácter inaudito da vida estudantil de um Ministro em funções, num Governo da Nação, nos anos de glória do facundo e benemérito Guterres, à procura de uma licenciatura salvífica, que lhe abrisse caminho a futuros Mestrados, MBA e edulcorados Doutoramentos, que certamente já estariam sob a sua mira científico-cultural, ainda que tais títulos académicos, ao que parece, não se destinassem a sustentar o exercício ulterior de nenhuma actividade profissional, mas apenas a aureolar o seu mui cioso currículo político.

Tenha ou não consequências disciplinares para o infausto professor a referência jocosa ao controverso currículo académico do Primeiro-Ministro, absolutamente heterodoxo ou, se preferirem, de uma forma mais benigna, absolutamente original, sobretudo em figuras de estado, tanto quanto seja do conhecimento público.

Admite-se que haja outros casos de vida académica tão desconcertantes como o de Sócrates entre a família política hodierna, tal a promiscuidade a que se chegou entre universidades e poder político, mais acentuada, naturalmente com a profusão do Ensino Universitário Particular, nascido à sombra daquele, com o qual, de resto, contraiu enorme cumplicidade.

Esta novidade dos currículos académicos ultra-rápidos, dos turbo-professores, das múltiplas funções destes em diversas universidades, acumulando cargos e prebendas, com cruzamentos políticos vários também, para garantir a correspondente cobertura, é mais uma das maravilhas do presente regime democrático.

Para coroar tais maravilhas, assegurando a sua indisputabilidade, nada melhor que ir criando alguns mecanismos de intimidação. Previnem-se assim os potenciais recalcitrantes, lembrando-lhes as inconveniências do seu exercício crítico. Claro que, neste particular, não se pensa na causa da sua crítica :

Quem mandou Sócrates meter-se a licenciar-se na Universidade Independente, em Engenharia Civil, sob a orientação pedagógica do Professor Morais?

Quem lhe passou as famigeradas cartas de curso, os diversos certificados de datas trocadas, com notas diferentes nas mesmas cadeiras ?

Quem meteu o tal Professor Morais à frente de Organismos do Estado, nos quais logo se viu envolvido em irregularidades, algumas graves de que ainda correm processos nos Tribunais ?

Depois disto, será temerário tecer comentários, jocosos ou sérios, sob pena de se ter de enfrentar a férula repressiva do Poder ? E chamaremos, então, democrático a este Poder, ainda que socialista de nome ?

AV_Lisboa, 20 de Maio de 2007

Comments:
Parece que estamos a regressar aos tempos da PIDE e dos seus "bufos".
Mas talvez este caso venha a ter algum mérito, se o professor recorrer para a justiça. Porque, se tal acontecer, irá correr muita tinta sobre o caso. O que quer dizer que, uma vez que se vai mais uma vez mexer na m...., ela mais uma vez espalhará o seu cheiro.
O que é bom, para avivar a memória dos portugueses.
 
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